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A pergunta é propositalmente misógina. Isso nem deveria estar em discussão, mas é justamente por haver ainda uma enorme lacuna de participação feminina no segmento que o tema sempre ganha repercussão  no mês de março, normalmente dedicado às mulheres.

Notadamente o percentual de mulheres ao volante de caminhões de todos os portes e vans de entrega é em geral bem reduzido, numa profissão normalmente associada ao público masculino. Mas tudo isso não passa de mero preconceito: inúmeros são os casos de mulheres motoristas que se provaram plenamente capazes de dar conta dos rigores do ofício no TRC, superando preconceitos que as relegam a funções fixas, uma herança que, apesar das iniciativas em contrário, ainda insiste em se manter em nossa sociedade.

Um exemplo é o Movimento A Voz Delas, criado pela Mercedes-Benz com foco nas necessidades das caminhoneiras e esposas dos caminhoneiros de todo o Brasil. “Queremos conscientizar a sociedade da importância destas mulheres no transporte e buscar parcerias para tornar este movimento ainda maior. O Movimento A Voz Delas nasceu justamente com o propósito de ouvir as histórias de mulheres que trabalham nas estradas, visando encontrar maneiras de transformar suas realidades. Afinal, quem faz o transporte de cargas acontecer, merece receber atenção e encontrar mais segurança, respeito, dignidade e melhores condições no seu percurso”, ressalta Ebru Semizer, gerente sênior de Marketing Comunicação & Inteligência de Mercado Caminhões da Mercedes-Benz do Brasil. “E para que esse grito seja cada vez mais alto, precisamos que mais pessoas e mais parceiros juntem-se a nós”.

De acordo com a executiva, infelizmente a infraestrutura das estradas brasileiras e também o preconceito são obstáculos que as caminhoneiras ainda enfrentam, o que se repete em outras profissões. “Mas quando atuamos juntas e por uma causa que traz mudanças positivas, os resultados podem até demorar, mas vão aparecer e mostrar a importância de acreditar na força feminina no mercado de trabalho”.

Outras iniciativas

Existem ainda outras iniciativas que seguem neste sentido, como o Movimento Vez&Voz – Mulheres no TRC, criado pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) em 2020, para valorizar as mulheres que trabalham no setor de transporte rodoviário de cargas, fomentar o crescimento profissional delas dentro do próprio segmento e atrair novos talentos para o TRC.

Além disso, tem como um dos objetivos criar uma rede de apoio e incentivo para discutir outros assuntos que permeiam os diversos universos femininos, como: auto-conhecimento, relacionamento, maternidade, saúde, beleza e todos os desafios que são inerentes às mulheres.

Um caminho ainda a percorrer

Quando pensamos em funções administrativas, de gestão ou comerciais, a participação feminina é mais perceptível: de acordo com a última pesquisa divulgada pelo Instituto Paulista do Transporte (IPTC), órgão de pesquisa parceiro do Setcesp, em 2021, houve um crescimento de 61% do público feminino no setor, em que pese a participação em diversas funções, inclusive administrativas e não necessariamente na condução de um caminhão.

O IPTC, que é órgão de pesquisa parceiro do Setcesp, mostrou que em 2021 aconteceram em São Paulo 32.094 contratações femininas para cargos no setor de transporte. O crescimento é 61% superior a 2020, especialmente nas áreas administrativa e comercial, com representatividade feminina de 52% e 56% sobre a masculina, respectivamente. Já no setor operacional foram registradas 13.741 contratações femininas e 125 mil masculinas. 

Porém, observe que, desde de 2015, o projeto do Sest Senat de Habilitação Profissional para o Transporte – Inserção de Novos Motoristas registrou a participação de 2.311 mulheres, ou seja, algo como 385 novas motoristas-ano. Isso é quase nada se pensarmos num universo de mais de 2,7 milhões de veículos ativos no TRC brasileiro, entre caminhões de todos os portes e vans de entrega. Ou seja, ainda há um longo caminho a percorrer.

É sabido que cresce o interesse feminino no setor de transporte rodoviário, embora o número de mulheres habilitadas com CNH para dirigir caminhão ainda seja muito, muito baixo em relação aos homens. Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), com dados de janeiro de 2022 do Registro Nacional de Carteira de Habilitação (Renach) foram registradas 4,39 milhões de CNHs para veículos pesados (caminhões e carretas), das quais 97,19% são para motoristas homens e apenas 2,81% para motoristas mulheres.

É uma oportunidade pouco explorada pois a maior parte das mulheres que opta pela profissão de caminhoneira é extremamente dedicada e comprometida com o trabalho, o que se traduz em uma maior produtividade e qualidade nos serviços prestados.

Outra vantagem é que a contratação de mulheres como caminhoneiras pode ajudar a melhorar a imagem da empresa perante a sociedade. Como sabemos, a igualdade de gênero é uma questão muito importante nos dias de hoje, e empresas que demonstram comprometimento com a diversidade e a inclusão têm muito mais chances de se destacar no mercado e atrair uma clientela mais consciente e engajada.

Além disso, a presença de mulheres no setor de transporte pode contribuir para a criação de um ambiente de trabalho mais seguro e respeitoso. Isso porque, muitas vezes, a presença feminina ajuda a diminuir o machismo e os comportamentos agressivos que infelizmente ainda são comuns em algumas empresas de transporte.

E a contratação de mulheres como caminhoneiras pode trazer benefícios financeiros para as empresas. Isso porque a diversidade no ambiente de trabalho pode ajudar a aumentar a criatividade e a inovação, gerando soluções mais eficientes e rentáveis. 

Espaço para as mulheres, existe. As barreiras também. Cabe às empresas revisar sua administração para estimular cada vez mais a participação das mulheres e tornar o espaço mais igualitário, com políticas de RH que acolham mulheres que não possuem experiência e elaborar uma jornada de treinamento, capacitação e qualificação constante. E isso, além de ser uma iniciativa que considera o princípio da equidade, faz todo o sentido para ajudar a dar conta da carência de bons profissionais que com frequência afeta o setor.

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